Afinal queremos tudo
Poema escrito em Beirute, Líbano, em janeiro de 2022, em conjunto com Rafaela Cortez. Assim de um jorro só.

Tudo.
O amor, o carinho, a amizade.
A tristeza e o seu consolo.
A raiva (porque não?).
O debate, a dança, a Revolução.
A euforia e o come down.
O sexo, o prazer, a arte, a música.
O olhar olhos nos olhos em silêncio, de sorriso na cara.
O conversar, apenas o conversar.
Um beijo e dois e três. O beijo a dois e a três.
A perda dos sentidos e o sentir os sentidos todos de uma vez.
A noite sem limites e o sol da manhã, devagar.
A água, o fogo.
O cozinhar e o comer. O cozinhar e o comer discutindo o que cozinhar e o que o comer.
A solidariedade, a igualdade, a justiça, a liberdade — o não ter medo.
O ser tudo e o não ser nada e o ser algo entre o tudo e o nada e o não saber dizer quem se é e o não ter de se dizer quem se é.
O espanto de existir.
A sinceridade, a honestidade, a transparência.
O fim do eu e do tu e do eles.
O nós. Sempre o nós.
O deter os meios e o fim da posse.
O fim do sistema. Deste sistema.
O imaginar outro. O construir outro.
Sempre o nós.
O tocar, o abraçar, o morder, o gritar, o gemer.
O fechar o punho e erguê-lo, o dar as mãos.
Tudo.
Beirute, janeiro de 2022
Ricardo Esteves Ribeiro e Rafaela Cortez